terça-feira, 25 de maio de 2010

Ontem, na Casa da Esquina, Silêncios das armas de fogo. Mulheres e violência armada


O local chama-se Casa da Esquina, mas bem que poderia chama-se Casa da Gente, de tão acolhedor que é. Em uma salinha ao canto colorida por confortáveis puffs, ontem, 24 de maio, deu-se mais uma iniciativa da Marcha Mundial das Mulheres, dessa vez para reflectir e debater questões sobre mulheres e violência armada. 24 de maio é o Dia Internacional das Mulheres pela Paz e pelo Desarmamento.

A informalidade do ambiente não diminuía a importância do tema, pelo contrário, fazia-nos lembrar que a relação entre mulheres e violência armada está presente não apenas nos países em guerra, mas inclusive no dia a dia daqueles que, supostamente, estão em paz.

Três mulheres a falar de forma contundente e tocante sobre três realidades que superficialmente não apresentam semelhanças entre si, mas que na verdade falam de uma mesma realidade: como a violência armada afecta de forma muito particular as mulheres.

O momento foi ilustrado com vergonhosos dados reais, – em Portugal em 2008 o número de casos registados de violência doméstica em que o agressor utilizou armas de fogo dobrou em relação a 2007, foram 81 os casos registados – com excertos literários, lembrando nos que a arte também é uma forma de resistência e com a projecção do curta metragem “Uma Mãe Como Eu...” , porque é preciso dar voz e visibilidade a essas mulheres que depois de perderem seus filhos, na experiência de militância e da resistência redefiniram o conceito de maternidade, formando um terceiro tom: maternidade militante.

Ao contrário do que se poderia supor, as mulheres são um dos grupos mais atingidos pela guerra e pela violência armada. Se a guerra para os homens dá-se no front, a guerra para as mulheres dá-se nos seus próprios corpos. Se a maioria dos homicídios masculinos é feito por outro homem desconhecido na rua, a maioria dos homicídios femininos é feito dentro da própria casa pelo companheiro ou ex-companheiro. Mesmo sendo elas as maiores vítimas dessa realidade, são elas as que mais resistem e lutam para mudá-la.

A iniciativa por si só já seria meritória de muitos louros, mas merece tantos outros, porque tocou fundo as pessoas que estavam ali, despertou novos desejos e dali surgiu a proposta de realizar-se um ciclo de cinema para discutir de forma mais aprofundada cada uma dessas realidades.

Mas isso, será assunto para outra conversa!

Thaís França, Marcha Mundial das Mulheres Portugal

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