quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Aminetu Haidar – história de uma prisão (I)

Aminetu Haidar (n. 1967 em El Aaiún, Sahara Ocidental), militante dos Direitos Humanos, ex-presa política e ‘desaparecida’, uma das mais importantes personalidades da resistência civil pacífica saharaui, foi presa no início da tarde de dia 13 de Novembro, Aeroporto de El Aaiun, capital do Sahara Ocidental ocupado, quando descia do avião oriundo proveniente das Canárias.
Segundo os seus familiares, que foram impedidos de entrar na aerogare, vários cordões de polícia e outras forças de segurança marroquinas cercaram o aeroporto antes da chegada do avião, enquanto agentes de segurança aguardavam junto à passarela da aeronave. Segundo testemunhos oculares, Aminetu Haidar foi detida e introduzida num furgão de cor verde rumo a destino desconhecido.
Presidente do Colectivo Saharaui de Defesa dos Direitos Humanos, já muitas vezes apelidada da “Gandhi saharaui” devido à sua militância de pacífica resistência à ocupação marroquina, Aminetu Haidar é uma das mais eminentes personalidades da resistência civil saharaui, reconhecida nacional e internacionalmente pela sua corajosa campanha em defesa da liberdade para o seu povo e a autodeterminação do seu país ocupado por Marrocos, contra os desaparecimentos forçados e abusos cometidos sobre os presos de opinião.
A ex-presa política saharaui, provinha de Nova Iorque, onde recebeu o «Prémio da Coragem Civil 2009» da John Train Fondation, pela resistência pacífica no Sahara Ocidental, no que a tornou a primeira mulher árabe a receber tal distinção.
A prisão de Aminetu Haidar surge na sequência da detenção, no passado dia 8 de Outubro, de sete activistas de direitos humanos saharauis detidos pela polícia marroquina, em Casablanca, quando regressavam de uma visita aos acampamentos de refugiados saharauis em Tinduf (Argélia), sob a acusação de traição à pátria e de atentado contra a soberania e integridade territorial de Marrocos. Os sete detidos enfrentam um Julgamento em Tribunal Militar, que poderá aplicar-lhes a pena capital.
Esta vaga de prisões inscreve-se numa longa lista de violações dos direitos humanos perpetradas pelo Reino de Marrocos contra a população Saharaui que vive sob ocupação há mais de 35 anos e surge poucos dias após o discurso proferido pelo Rei Mohamed VI no aniversário da «Marcha Verde», ameaçador contra todos aqueles que ousem por em causa a ocupação ilegal do território da antiga colónia espanhol do Magrebe.
Em 1987, com 21 anos de idade, Aminetu Haidar estava entre os/as 700 manifestantes detidos/as por participar numa manifestação pacífica em que se reclamava o referendo de autodeterminação. A activista foi dada como “desaparecida”, não tendo sido apresentada a tribunal nem confirmada como presa, permanecendo durante quatro anos em centros secretos de detenção onde, juntamente com outras 17 mulheres saharauis, foi sujeita a diversas formas de tortura. Após ter sido libertada, em 2005, a policía marroquina deteve-a e espancou-a após a sua participação numa manifestação pacífica. Foi libertada sete meses depois, graças à pressão internacional de organizações como a Amnistia Internacional e o Parlamento Europeu.
Desde então, Aminetu Haidar tem percorrido o mundo denunciando a ocupação militar marroquina e defendo o direito do seu povo à autodeterminação.
Aminetu é mãe de dois filhos e tem um bacharelato em literatura moderna. Foi galardoada com o Prémio de Direitos Humanos Robert F. Kennedy 2008, o 2007 Silver Rose Award (Áustria), e o Prémio de Direitos Humanos 2006 Juan María Bandrés (Espanha). Foi nomeada pelo Parlamento Europeu para o Prémio de Direitos Humanos Andrei Sakarov. A Amnistia Internacional (EUA) apresentou a sua candidatura ao Prémio Fondo Ginetta Sagan, tendo sido igualmente nomeada para o Prémio Nobel da Paz.

(Fonte: Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental)

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